quinta-feira, 19 de setembro de 2013

As carpideiras do céu nublado

Achei este texto que escrevi em junho de 2012. Sobre carpideiras do Gasômetro de Porto Alegre. Era fim de outono. 


Aquele dia nublado e frio de outono me fazia lembrar de meus amigos. Cada abraço, cada lembrança, estava tudo guardado e apertando meu peito. Aquele dia chuvoso e aquela sensação de perda. Era isso e algo mais. Aquela sensação de dever cumprido, de renovação de energias, apesar da confusão em minha cabeça. Aquele dia de domingo era especial. Encontrar pessoas queridas e sentir o vento no rosto eram necessários. Deparar-se com algo inexplicável também era urgente. E as coisas acontecem sem a gente se dar conta. Acontecem e são consumidas.

Naquele dia eu encontrei essas coisas que a gente não espera. Eu precisava me sentir em casa e me sentir acolhido. Ao lado de uma pessoa especial eu sentia isso. Sentia a energia. Era branca como as nuvens e azul como o céu. Era aquele o momento, o momento de ouvir aquela cantiga, aquelas vozes, aquelas cores e aquelas pessoas. Estar ali era um presente.

A música me remetia à infância no interior. Lembrava eu dos rios, das brincadeiras, da minha mãe, dos meus amigos de outrora. A música me fazia bem. Deixava-me em paz. Revigorava-me. Fazia-me chorar e sorrir. Não sei o motivo, mas me lembrava da minha terra, do meu nascimento. Era familiar. Era bela e suave. De tristeza à esperança.

Era uma das cantigas cantadas por carpideiras do interior do Ceará. A gente acertara ao sentir familiaridade com o Nordeste. Na forma de ser cantada, na sonoridade, na sensibilidade a gente apostara e acertara. Éramos ele e eu unidos mais uma vez, naquele lugar, naquela hora, para sempre, ao céu nublado das carpideiras.

Mamãe eu vou lá pro céu
Dois anjo vai me levando
Do mundo eu vou me esquecendo
Só de Deus vou me alembrando
Do mundo eu vou me esquecendo
Só de Deus vou me alembrando