Nunca estivemos tão perdidos na vida. Parece que a última reza foi profetizada há séculos. É difícil encarar a realidade nua e crua das ruas e dos lugares mais distantes das formas de ser. Então, perdemos o fio de Ariadne, o fio condutor. O mundo não sobrevive. Apenas na sofreguidão vamos levando esta tramoia, esta ilusão.
É tudo tão claro e escuro ao mesmo tempo. Ninguém vê ninguém. Claro, apenas o sol que esquenta as ideias e deixa o homem mais ambicioso na sua jornada. Os neurônios se esvaiam e deixam em seu lugar o vazio pensamento humano.
Escuro, somente à noite. Que mentira. O dia nem começou e escuro estão os lugares onde perpassam a miséria do homem. A criança da rua, o homem parado no sinal, os engravatados nos escritórios com ar condicionado, as moças e suas sacolas no shopping. A escuridão está em voga, a clareza também. Não pensem que a consciência humana não sabe o que acontece.
Sabe sim, mas tem medo e preguiça de agir. Estamos mergulhados no marasmo, mortos na água parada, afogados em lágrimas. Humanos, o nome é apenas mais uma designação do que somos. Humanos como agimos, não mais.
Homens acostumados com a dor. A bala que sai da arma não é mais uma ameaça, mas a glória. A palavra divina do conhecimento banida, por vezes proibida. Pensadores esquecidos, conhecimento estático. A forma como agimos e como nos sentimos é todo o reflexo de um mundo sem volta, frio, inóspito, hostil.